Psicanálise de Crianças

Seminário "Psicanálise dos contos de fadas"



Inscrições: 99225 3849


Psicanálise de Crianças

Objetivo: Proporcionar uma abordagem téorica sobre o processo de desenvolvimento do "eu" na infância.

Círculos de leitura conduzidos para aprofundamento no tema, em encontros semanais, no IBEi






Os primórdios da análise de crianças remontam a mais de duas décadas atrás, ao tempo em que Freud conduziu sua análise do “Pequeno Hans”. O grande significado teórico dessa primeira análise de uma criança está em duas direções. O seu êxito no caso de uma criança de menos de 5 anos mostrou que os métodos psicanalíticos podiam ser aplicados à crianças pequenas; e, talvez mais importante ainda, a análise pode estabelecer indubitavelmente a existência das tendências pulsionais infantis até aqui muito questionadas na própria criança, tendências que Freud havia descoberto no adulto.


Além disso, Os resultados obtidos a partir dela acenaram com a esperança de que outras análises de crianças pequenas nos dariam um conhecimento mais profundo e mais acurado do funcionamento de sua mente do que a análise de adultos havia dado e, desse modo, poderiam trazer contribuições importantes e fundamentais à teoria da psicanálise. Mas essa esperança não se realizou durante muito tempo. Por muitos anos a análise de crianças continuou a ser uma região relativamente inexplorada dentro da psicanálise, tanto como ciência como quanto terapia. Embora vários analistas, em particular a Dra. H. v. Hug-Hellmuth, tenham desde então empreendido análises de crianças, nenhuma regra fixa com respeito à sua técnica ou aplicação foi formulada. Essa é, sem dúvida, a razão pela qual as grandes potencialidades práticas e teóricas da análise de crianças não foram ainda apreciadas de modo geral, e porque esses princípios e aspectos fundamentais da psicanálise, há muito adotados no caso de adultos, ainda têm de ser esclarecidos e provados no que diz respeito às crianças.
Apenas nos últimos 10 anos aproximadamente é que mais trabalho foi feito no campo da análise de crianças. No essencial, dois métodos surgiram – um representado por Anna Freud e outro por mim.

Anna Freud foi conduzida por seus achados referentes ao ego da criança à modificar a técnica clássica e elaborou seu método de analisar crianças do período de latência independentemente da minha técnica. Suas conclusões teóricas são sob certos aspectos diferentes das minhas. Em sua opinião as crianças não desenvolvem uma neurose de transferência, e, assim sendo, uma condição fundamental para o tratamento analítico se encontra ausente. Além disso, ela acredita que um método semelhante àquele empregado com adultos não deva ser aplicado à crianças, pois o ideal de ego infantil delas é ainda excessivamente frágil. Essas opiniões diferem das minhas. Minhas observações me ensinaram que também as crianças desenvolvem uma neurose de transferência análoga à das pessoas adultas, contato que empreguemos um método que seja o equivalente da análise de adultos, isto é, que evite todas as medidas educacionais e que analise plenamente os impulsos negativos dirigidos ao analista. Ensinaram-me também que, nas crianças de todas as idades, é muito difícil mitigar a severidade do superego mesmo numa análise profunda. Além disso, na medida em que não recorre à nenhuma influência educacional, a análise não apenas não faz mal ao ego da criança como na realidade o fortalece.

Seria sem dúvida uma tarefa interessante fazer uma comparação pormenorizada desses dois métodos com base nos dados factuais e avaliá-los de um ponto de vista teórico. Mas devo me contentar nestas páginas em dar um relato da minha técnica e das conclusões teóricas a que ela me possibilitou chegar. É tão relativamente pouco o que se conhece atualmente sobre a análise de crianças que nossa primeira tarefa deve ser a de lançar luz sobre os problemas da análise infantil a partir de vários ângulos e de agrupar os resultados até aqui obtidos.

Melanie Klein,
Londres,
Julho de 1932